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domingo, 4 de maio de 2014





1ª CAPITULO

Esta é uma fábula de um pássaro que queria voar para lá da sua gaiola.


- Tenho de sair desta gaiola para conhecer mundo. Um sábio disse-me que "A vida não é mais que uma gota de orvalho numa folha de lótus" Rabindranath Tagore,


O belo pássaro que passara toda a sua vida numa gaiola estaria agora na disposição de arriscar para o seu primeiro voo, mas tinha de esperar a sua oportunidade de apanhar a gaiola aberta.

- Tenho de sair, acho que aqui fui feliz, mas gostava de sair desta gaiola vislumbrar um pouco a natureza.
Ali o pobre pássaro pouco podia fazer a não ser cantar e comer, para ele isso já não era o suficiente para ser feliz.


Certo dia o pássaro ao ver a gaiola aberta ganhou coragem e saiu para o parapeito da janela, mas faltava-lhe ainda a coragem para voar e voltou a entrar na gaiola.

- Virá a altura certa, acredito que não foi hoje, mas tenho a certeza que na próxima oportunidade vou conseguir voar.

O pequeno pássaro nos dias seguintes sempre que podia batia as asas na esperança de um dia poder voar.


- Sei que quando partir vou sentir saudades do meu pequeno mundo, desta gente que me tratou e abrigou. Cada um tem a sua vida e cada um tem o seu caminho sinto que agora é o momento de partir em busca de algo com que sonho.

Numa bela manhã solarenga a sua gaiola foi pendurada do lado de fora da janela, como era habitual em dias de sol.
Aquela rua de Lisboa era tudo o que conhecia do mundo exterior.

Como se sentia bem naqueles dias em que via as pessoas sair do elevador e meter-se com ele, o Sr. Joaquim o dono da mercearia de baixo assobiava para ele.
Ao fim do dia pensou que era agora o momento de partir, tentou com o bico abrir a porta da gaiola, depois de muitas tentativas lá conseguiu abri-la, voou para cima do candeeiro mais próximo e pensou:


-É o meu primeiro voo, vou tentar voar de candeeiro em candeeiro até ao fim da rua.
 
Ao pousar no terceiro candeeiro, o pobre pássaro estava cansado, voltou para trás e entrou de novo na sua gaiola. Não faz mal voltar para trás, amanhã tento de novo. Se fracassar, pelo menos tentei.



2ª CAPITULO


Durante as semanas seguintes o pássaro foi tentando voar um pouco mais, havia um mundo a ser descoberto para lá daquela rua. De candeeiro em candeeiro foi chegado cada fez mais longe, voltou sempre à sua gaiola porque sabia não estar pronto para voos maiores.

-Volto sempre para a gaiola porque sei que os primeiros voos são os mais difíceis, porém os mais importantes. Repito sempre, mas não complico, por agora é tudo um pouco repetitivo, mas repetir também é aprender.

O Sr. Joaquim que já há muito via o pássaro sair da gaiola nos dias de sol, dizia:

- Ó lindo pássaro de penas verdes e azuis, eu sei que fizeste os primeiros voos, que tal agora tentares planar um pouco também?
E o pássaro respondeu:

- Tudo tem o seu tempo Sr. Joaquim, por favor não conte nada a ninguém destes meus pequenos voos!

E o Sr. Joaquim disse:
- Sei que quando partires sentirei a falta do teu chilrear, mas estarei orgulhoso da tua sede de conheceres outros mundos. Estendeu a mão para o pássaro pousar.

O pássaro apesar do medo de tal acto voou para a mão do Sr. Joaquim, já não tinha medo de errar, já falhara por medo de tentar.

Já com pássaro na mão, o Sr. Joaquim disse:

- Não sejas tímido, como dizia Pablo Neruda "A timidez é uma condição alheia ao coração, uma categoria, uma dimensão que desemboca na solidão." 

-Mais que uma mão estendida, mais do que a alegria de dividir os teus sonhos tens aqui um amigo também. Como eu gostaria de “voar” meu amigo!
Continuou o Sr. Joaquim depois de uma pequena pausa:

-Vou contar-te um segredo. Passei a minha vida nesta mercearia, acho que fui feliz, criei os meus filhos e netos, vi as crianças desta rua crescer, agora que já estou velho resta-me pouco para fazer. 

-Vai até ao fundo da rua e olha para lá do rio, hás-de ver o Cristo Rei foi o mais longe fui até hoje, olhar lá de cima e ver a cidade àquela distância foi o mais perto que estive de “voar”, essa é a imagem que tenho do mundo. Foi lá que pedi a minha falecida esposa em casamento, faz este mês 50 anos., vamos combinar uma coisa, quando estiveres preparado para voar até lá avisa-me que vou lá ter contigo, aquele sítio traz-me muitas recordações.

O pássaro ficou curioso com as palavras do Sr. Joaquim, levantou voo e sem se aperceber foi até ao fundo da rua, pousou numa chaminé dum prédio alto, e viu o “homem de braços abertos” que ficava para lá do rio e calculou que fosse o Cristo Rei de que o Sr. Joaquim falava.  



3ª CAPITULO

Há vários dias que não sai de casa por culpa da chuva que veio esta semana, mas isso não o deixa desanimado, olha pela janela e pensa que já não tem medo das tempestades nem das ventanias fortes, o que sente é uma enorme ansiedade de mergulhar no que ainda tem para viver.
O pássaro vai declamando poemas naquelas tardes chuvosas para passar o tempo.

Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
 Releio e digo: "Fui eu ?"

 Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa

No final dum desses dias de chuva, os donos July e Mário ao entrar em casa aperceberam-se do chilrear do pássaro muito activo.

- Que se passa com o pássaro que tem andado tão activo ultimamente, não para de pular na gaiola e passa os dias a chilrear? Pergunta o Mário:

-Não sei! Deve ser da chuva lá fora. Responde July:

- Estava a declamar um poema pai. Diz a Joana

- Que parvoíce filha um pássaro a declamar, nem digas isso a mais ninguém senão dizem que és louca. Diz o pai com um ar surpreendido.

-Mas estava, que eu ouvi. Insiste a menina.

O pássaro a quem a família chamava de Gandhi por ser muito calmo parou de chilrear, assim que os pais entraram na cozinha para preparar o jantar. Ficou a olhar para menina que se aproximou da gaiola.

- Estavas a declarar um poema, não estavas? Quem te ensinou? Perguntou Joana com um olhar de ternura para o pássaro, de seguida abriu-lhe a gaiola contrariando as ordens dos pais, para nunca a abrir.
O pássaro depois de ficar surpreendido com o acto de Joana saiu da gaiola para o seu ombro.

-Tu percebes o que eu digo Joana? De tanto ouvir o teu pai aqui na sala a ler poesia para a tua mãe, aprendi algumas. Disse o pássaro.

- Sim percebo, mas nem sempre percebi, só há algumas semanas comecei a perceber tudo o que dizes. Respondeu Joana

-O que é estranho é que nem todos me percebem. Disse o pássaro com um tom de ternura para com a menina.

Joana levou a mão ao ombro e o pássaro saltou para o dedo dela.

 De seguida a menina aproximou o pássaro da sua cara e sussurrou-lhe:

- A minha avó materna também tinha um rouxinol, passei muitas tardes a falar com ele, fazia-lhe perguntas sobre os meus pais biológicos porque eu não tinha memórias deles, a minha avó nunca se importou com o facto de eu falar com um pássaro pois achava que me poderia ajudar a vencer a solidão daquela casa em que vivíamos as duas.

Joana tinha 9 anos, uma menina de voz doce e meiga, cabelos louros como ouro, olhos verdes cor de esmeralda. Vivera com a sua avó até aos 6 anos, até esta falecer. Ficara órfã de pai e de mãe aos dois anos após um acidente trágico de carro num dia de tempestade em que foi a única sobrevivente.
Era filha adotiva deste casal.  A mãe, de July era Inglesa e por vezes notava-se um pequeno sotaque, Mário, vinha de uma família abastada.
O pequeno pássaro estava radiante com a doce menina de olhos claros e voz doce e meiga que lhe sussurrava ao ouvido um pouco da sua história.

- Também eu perdi a minha família muito novo, mas vocês acolheram-me tenho sido muito bem tratado aqui. Disse o pássaro num tom de agradecimento.

Tinha sido encontrado por Joaninha num jardim ali perto depois de uma enorme tempestade que destruiu o seu ninho, a partir desse dia nunca mais vira os seus progenitores.

- Era o mínimo que podíamos fazer por ti meu amigo, temos uma história parecida. Disse Joana num tom doce ao mesmo tempo que passava a outra mão pelas penas do pássaro para o reconfortar.

- Estou muito grato por me terem dado abrigo. Disse o pássaro.

- Com quem estas a falar Joaninha? Perguntou a mãe que estava na cozinha.

O pássaro voo de novo para a gaiola antes que aparecesse alguém na sala.

- Estava ao telefone com uma colega da escola. Respondeu a menina.

- Muito têm vocês para falar! Ainda agora saíste e já estão ao telefone. Disse o pai que passou pela sala e foi para o escritório.

-Vou para o quarto fazer os trabalhos. Disse a menina num tom alto para a mãe que estava na cozinha ouvir.

 Joaninha agarrou na gaiola e levou-a para o quarto como fazia por vezes porque gostava de ouvir o pássaro cantar.

- Vamos para o meu quarto Gandhi, vamos ouvir música enquanto faço os trabalhos. Disse a Joaninha para o pássaro agora num tom baixo para mais ninguém ouvir.

 Passaram um resto de tarde agradável a ouvir musica e a falar das suas vivências como se de dois seres humanos se tratasse.



4ª CAPITULO

O sol voltara a Lisboa, como fica bonita a cidade nestes dias de primavera com um céu azul e uma luz que poucas cidades do mundo têm. As ruas da Baixa enchem-se de turistas que procuram absorver cada raio de sol ao mesmo tempo que viajam nos elétricos e elevadores, tentando conhecer cada recanto das ruas mais típicas da Cidade.
Era sexta-feira, D. Palmira a senhora que trabalhava para a família e tomava conta de Joana, fazia as lides da casa e as compras para a família durante a semana. A primeira coisa que fazia quando chegava a casa era abrir as janelas para arejar a casa e começar mais um dia de trabalho, de seguida tratava da gaiola do pássaro, limpava-a e punha comida e água fresquinha.

Fui à fonte beber água
Ao rio para te falar,
Nem na fonte nem no rio
Nunca te pude encontrar.

Dá-me uma gotinha de água
Dessa que eu oiço correr,
Entre pedras e pedrinhas
Alguma gota há-de haver.
Alguma gota há-de haver
Quero molhar a garganta,
Quero cantar como a rola
Como a rola ninguém canta.
Fui à fonte beber água
Achei um raminho verde,
Quem o perdeu tinha amores
Quem o achou tinha sede.

Musica tradicional Alentejana

Cantava a D. Palmira que gostava de cantarolar músicas tradicionais Alentejanas, terra que a viu nascer. D. Palmira é uma senhora muito bem-disposta que adora cantar e responder em provérbios.

 Tem 65 anos e três filhos, dois deles imigraram para França nos anos 90,ela vive numa casa em Alfama com o marido e a sua filha mais nova Sónia, tem 25 anos estuda filosofia na universidade católica em Lisboa, quando os pais de Joana têm de viajar é Sónia que fica como baby sitter de Joana para ajudar a mãe. Acontece com alguma frequência devido às profissões dos pais de Joana.

 Mário é biólogo, tem que viajar muitas vezes para os Açores onde faz mergulho para estudar espécies marinhas, July é sócia de uma agência de viagens que organiza voos charter de Inglaterra para o Algarve e Lisboa, tem de se deslocar por vezes a Faro onde tem uma delegação da agência.
Levou a gaiola e pendurou-a do lado de fora junto à janela e foi fazer o seu trabalho.

. - Como é bom este sol, só me apetece cantar também. Dizia o pássaro para uma andorinha que pousara num telhado ali próximo.
E cantou.

Passarinho da ribeira
Se não fores meu inimigo [bis]
Empresta-me as tuas asas
Deixa-me ir voar contigo
Passarinho da ribeira
Ai!...Se não fores meu inimigo
Ao longe cruzando o espaço
Vai um bando de andorinhas [bis]
Que te leva um abraço
E muitas saudades minhas
Ao longe cruzando o espaço
Ai!...Vai um bando de andorinhas

Fernando Carvalho (Ilha das Flores)
Música tradicional dos Açores


Depois de fazer as lides da casa já perto da hora de almoço, D. Palmira descera para fazer algumas compras na mercearia do Sr. Joaquim.

Já na porta da mercearia.
- Como canta hoje o belo pássaro D. Palmira. Disse o Sr. Joaquim.

-É verdade, ultimamente tem andado assim, deve ser da primavera. Respondeu D. Palmira com um sorriso rasgado no rosto.

- Acho que ele gostaria de fazer voos maiores para lá daquela gaiola. Respondeu o Sr Joaquim, como que informando a D. Palmira para a vontade do pássaro de sair e conhecer mundo.

-Sabe que já a Joana noutro dia me pediu para de vez em quando o deixar sair da gaiola que ele estava a precisar de bater um pouco as asas, mas os senhores não querem que ele ande solto pela casa. Respondeu ela com uma expressão agora mais séria.
 Ficaram os dois durante breves momentos a sorrir e a olhar o pássaro que não parava de chilrear. Depois entraram na mercearia para a D. Palmira fazer as suas compras para o almoço e para organizar as coisas para o jantar da família.
 O pássaro nessa tarde não parou de chilrear até que a D. Palmira foi buscar de novo a gaiola para dentro de casa para se ir embora depois do dia de trabalho.

Mas a não saiu sem lhe deixar uma lengalenga como era seu hábito.

Pico, pico serapico
Pico, pico serapico
Quem te deu tamanho bico?
Ou de ouro ou de prata
Mete a mão neste buraco
Pico, pico serapico
Quem te deu tamanho bico?
Foi o filho do Luís
Que está preso pelo nariz
Pico, pico serapico
Quem te deu tamanho bico?
Foi a filha da rainha
Que está presa na cozinha
Salta pulga da balança
E vai ter até à França
Cavalinhos a correr
Meninas a aprender
Qual é a mais bonita
Que se irá esconder
 
Lengalenga popular

 - Responde o pássaro. 

Romance de 10 meninas casadoiras
 
São 10 meninas e sobre elas chove
Mas chega um bombeiro e ficam só 9.
São 9 meninas comendo biscoitos
Mas chega um padeiro e ficam só 8.
São 8 meninas fazendo uma omolete
Mas chega um guloso e ficam só 7.
São 7 meninas pintando papéis
Mas chega um pintor e ficam só 6.
São 6 meninas à volta de um brinco
Mas chega o ourives e ficam só 5.
São 5 meninas que vão ao teatro
Mas chega um actor e ficam só 4.
São 4 meninas falando francês
Mas chega um estrangeiro e ficam só 3.
São 3 meninas guardando ovelhas
Mas chega um pastor e ficam só 2.
São 2 meninas nadando na espuma
Mas chega um barqueiro e fica só 1.
É uma menina a apanhar caruma
Mas chega um leão, não fica nenhuma
 
Lengalenga popular

-Bom fim-de-semana, volto segunda-feira. Despediu-se a D. Palmira do pássaro com um grande sorriso nos lábios.


5ª CAPITULO

Douro

July tinha de ir ao Porto numa viajem de negócios devido há enorme procura de turistas britânicos pelo Douro vinhateiro, a sua empresa estava a preparar um pacote especial para o fim-de-semana com viajem, alojamento, um cruzeiro no rio Douro seguido de uma viagem no comboio histórico a vapor entre a Régua e a estação do Tua à descoberta das mais belas paisagens do Douro. Os turistas são também convidados a participar numa vindima durante a manhã e à tarde a fazer parte das “lagaradas”, onde as uvas são colocadas nos antigos lagares de granito, depois pisadas num ambiente festivo, onde se canta e dança celebrando o ano vinícola. Neste festim não vão faltar as iguarias regionais e vinho, muito vinho.

July tinha uma lista de possíveis locais a visitar: Como era uma viagem, para conhecer alguns locais e estabelecer contactos, decidiu ir em família.

De manhã cedo apanharam o comboio em Lisboa, na estação de Santa Apolónia para Vila Nova de Gaia, chegaram às 10:45h..

 A primeira visita foi às caves do vinho do Porto. Os armazéns, têm um ambiente calmo com luz amena e temperatura controlada, durante a visita são descritos os procedimentos para obter o vinho do Porto no seu precioso processo de envelhecimento.

Já no cais de Gaia viram os Barcos Rebelos, Uma embarcação portuguesa, típica do Rio Douro que transportava as pipas de vinho do Porto do Alto Douro, até Vila Nova de Gaia, onde o vinho era armazenado e, posteriormente comercializado.

Cerca do meio-dia embarcaram a bordo de um Barco. Trata-se de uma barcaça onde Joana e a sua família almoçaram, tinha também uma área de lazer ao ar livre com espreguiçadeira onde se sentaram depois de almoço para desfrutar da viagem.

Está a ser um passeio espectacular com paisagens naturais que deixam qualquer um com a respiração suspensa, vão mudando de cor entre vegetação e penhascos xistosos ocupados com vinhas, na água do rio refletem-se essas paisagens com a modelação da paisagem em socalcos como se de um quadro luminoso se tratasse.

 A Unesco elevou o Alto Douro Vinhateiro a Património da Humanidade em Dezembro de 2001, como uma “paisagem cultural, evolutiva e viva.

Chegaram há Régua, apanharam o comboio a vapor em direcção á estação do Tua, viagem que demora cerca de uma hora. A viagem é marcada mais uma vez pelas paisagens.

Já perto do fim da tarde regressaram à Régua onde ficaram hospedados numa quinta rodeada de muros de xisto em pleno coração do Douro, que se estende ao longo das margens do Rio Corgo, onde este se encontra com o Douro,.

Depois de jantar fizeram uma pequena visita às caves da quinta, beberam um Porto e foram-se deitar, pois no dia seguinte tinham um dia muito ocupado.

 

6ª CAPITULO

Dia da mãe

July e Joana tinham preparado uma surpresa a Mário, convidaram os pais dele que tinham uma herdade em Vila Nova de Foz Côa mas viviam na Africa do Sul para o surpreender durante a visita que tinha planeado fazer ao Parque Arqueológico do Vale do Côa.

Estavam eles a ver umas gravuras esculpidas nas pedras de xisto quando apareceu a mãe de Mário.

- Meu filho!!! Disse a mãe de Mário.
Mário virou-se surpreendido ao reconhecer voz da sua mãe.

- Mãe que faz aqui? Ainda esta manhã falamos e estava na Africa do Sul. Disse ele surpreendido. 

- Foi uma surpresa filho, que Joaninha preparou para ti com a ajuda de July, não te podia dizer que estava cá para não a estragar. Disse a mãe ao mesmo tempo que o abraçava com uma forte saudade.

- Mãe, Pai, que bom estarem aqui logo hoje dia da mãe. E foi abraçar o pai que também já não via há mais de dois anos.
- Avó obrigado por aceitar fazer esta surpresa ao pai. Disse a Joana que também abraçou a avó.
- Eu é que agradeço pela ideia pois estávamos cheios de saudades vossas! Respondeu a avó já com uma lágrima no olho ao mesmo tempo que abraçava fortemente a Joana.

Durante a visita o avô foi explicando todas as gravuras, ele sabia muita coisa sobre todo o Parque pois nascera ali perto.

-São uma concentração de arte rupestre composta por gravuras em pedra datadas do Paleolítico Superior, é o mais antigo registo de actividade humana existente no mundo, explicou o avô.

O pai de Mário chamava-se Carlos de Monforte a mãe Maria de Monforte, foram para a Africa do Sul nos anos 80 onde tinham uma cadeia de supermercados.

No final da visita foram para a herdade onde tinham uma grande almoçarada preparada.

- Mãe quando regressam de vez a Portugal? Perguntou o Mário durante o almoço.

- Estamos a pensar nisso mas temos de deixar as coisas bem feitas para o teu irmão o gerir, sabes que não é um local fácil para gerir um negocio. Respondeu a Mãe.

- Sim sei, mas acho que o João já está preparado para o gerir, já trabalha convosco há 7 anos. Respondeu o Mário.
João é o irmão mais novo do Mário.

- Sim também sou da mesma opinião só falta tratar de alguns detalhes, para podermos regressar, já é ele que gere a empresa. Respondeu agora o Sr. Carlos Monforte com um sorriso de orgulho no filho.

- Que pena a sua família não poder vir July. Disse a Dona Maria.

- Pois… Também gostava mas não foi possível. Foi tudo em cima da hora ela não podia sair de Londres nesta altura. Respondeu July com uma expressão triste.

-Mas não faz mal, estou na mesma em família. Continuo July agora com um grande sorriso.
- E tu, meu amor como vai a escola? Perguntou a Dona Maria a Joana.

- Vou bem avó, estamos no último período, a contar os dias para as férias. Respondeu a Joana contente.

- Mas não gostas da escola?

- Claro que gosto avó, tenho lá todos os meus amigos mas também gosto das férias, praia, viagens, etc.

E ficaram todos a rir durante um bocado.

- Avó tens de ir lá a casa conhecer o Gandhi.

- O Gandhi!!!
- Sim o nosso rouxinol que encontramos no Jardim, caiu do ninho depois de um temporal. Disse a Joana.

 - Há sim! Sendo um rouxinol deve gostar de cantar. Disse o Sr. Carlos assobiando como um rouxinol.

Ficaram todos a rir e conversar durante a tarde.

Já no final da tarde foram todos para o Aeroporto do Porto, tinham de regressar, Joana tinha de ir para a escola no dia seguinte e os Monforte tinham voo marcado para a Africa do sul.

Já no avião. Joana mal entrou no avião para Lisboa adormeceu com um sorriso na cara estava cansada mas muito feliz.

 Obrigado amor por esta surpresa, tinha muitas saudades deles pena ser tão pouco tempo. Disse Mário para Judy e beijou-a.

- Sim para a próxima tenho de tratar tudo com mais tempo de antecedência.

- Foi pouco tempo mas deu para matar saudade e a Joana ficou muito feliz vê com se ri a dormir. Disse Mário e beijou de novo July.



7ª CAPITULO
O corvo

Segunda-feira em Lisboa, mais um dia de trabalho para D. Palmira, como de costume abre a janelas, vai tratar da gaiola do pássaro, lembra-se de uma conversa que tivera com Joana em que esta lhe pediu para de vez em quando abrir a gaiola e achou que hoje era um bom dia para isso, pois a família ia chegar mais tarde porque tinha um jantar em casa de um casal amigo.

O pássaro aproveitando tamanha oportunidade saiu da gaiola e voou para a rua onde pousou em cima do toldo da mercearia do Sr. Joaquim.

D. Palmira ficou apavorada por ter deixado o pássaro fugir e foi para a janela chamar por ele.

O pássaro não parava de chilrear, o Sr. Joaquim ao ouvir tamanho alarido veio à rua ver o que se passava.

 -Ele fugiu-me.- Gritava ela lá de cima e saio da janela para descer á rua.

 -Vais dar um passeio? Tem atenção aos pombos e a algumas pessoas que podem não querer o teu bem. E não te preocupes com a D. Palmira que eu converso com ela.

Estava a D. Palmira a chegar quando o pássaro levantou voo pela rua fora até se perder de vista.

 -Que desgraça, agora como vou explicar aos senhores que deixei fugir o pássaro. Disse ela, com cara de pânico.

- Não se preocupe que ele há-de voltar, só precisa de voar um pouco. Respondeu o S. Joaquim ficando a olhar para o fundo da rua.

- Tem a certeza? Disse ela.

- Tenho sim. Respondeu ele.

Ficaram algum tempo os dois a olhar para o céu, pouco depois D. Palmira subiu para acabar as tarefas da casa já um pouco mais calma.

 O pássaro voou toda a manhã pelas ruas e praças da Baixa de Lisboa, até que teve sede a parou no alto de um telhado na Praça do Rossio.
Lá do alto viu uma fonte no meio da praça, mas teve algum receio de lá ir pois estava cheia de pombos.

- Que mal me podem fazer os pombos. Pensou o pássaro.
E foi pousar mesmo na beira da fonte.

Os pombos que não gostavam muito de concorrência foram logo ter com ele.

 -Olha que lindo pássaro aqui na nossa fonte. Disse o pombo mais velho para os outros que se apressaram a cercá-lo.

- Deves ser novo aqui, fugiste de alguma gaiola? Disse outro pombo ao mesmo tempo que lhe bicava os pés.

- Só queria beber água, deixa-me em paz. Disse o pássaro aflito com tamanha falta de compreensão.

- Beber água! coitadinho está com sede. Quer beber água na nossa fonte.

E por ali ficaram durante um algum tempo sem que ninguém fizesse nada para tirar o pobre pássaro daquela situação.

No alto de um dos prédios estava um corvo que viu toda a situação e resolveu intervir. Fez um voo picado para ganhar velocidade e pousou no meio da roda de pombos que cercavam o pássaro. 

 -A cidade não é vossa para decidirem quem pode ou não beber água nessa fonte. Disse o corvo com ar intimidador para os pombos.

 Os pombos afastaram-se, pois não queriam problemas com aquele corvo.

 -Vem, bebes água no meu bebedouro. Disse o corvo para o pobre pássaro que tremia de medo.

Voaram os dois para o telhado de um prédio situado ali na praça, onde o corvo tinha as suas coisas no terraço da casa de uma velha senhora florista que tinha ali próximo uma banca de flores.

Já depois de beber água o pássaro agora mais calmo, já percebera que estava em segurança, agradeceu ao corvo negro e de bico laranja.

 -Obrigado por me tirares daquela situação. Vives aqui? Não tens gaiola? Disse o pássaro para o corvo que se notava ter já alguma idade.

 -Sim é aqui que vivo, estou farto desses pombos que tomaram a cidade e dela fazem o que querem sem respeito por nada nem ninguém.

Sou o corvo de Lisboa que por aí anda a voar
 para os turistas me fotografar.
Minhas histórias conto em rima,
 para a todos agradar.
De manhã vou à ribeira
com os pescadores conversar
 que trazem sempre histórias lindas
para eu as poder contar.
Já corri meio mundo
 mas acabei sempre por regressar
a esta cidade maravilhosa
 que tem muito para mostrar.

Disse o Corvo que gostava muito de rimar.

 -Que bom, deves ter uma vida cheia de aventuras. Disse o pássaro que olhava para o corvo com uma certa inveja.

-Sim não me posso queixar.

E ali passou uma bela tarde com o corvo entre as estrofes e as rimas.

O corvo acompanhou o pequeno pássaro até à sua rua, não fossem os pombos voltar a meter-se com ele. Depois voltou para o Rossio.
Quando chegou o Sr. Joaquim estava na porta da mercearia à sua espera.

 -Vejo que conheces-te o Camões. Disse ele.

 -Camões! Disse o pássaro sem perceber de quem se tratava.

 -Sim o corvo, é assim que toda a gente o trata.

.-Claro… Toda a gente aqui o conhece.

 -Reza a lenda que:

Lenda dos Corvos de S. Vicente

No tempo da ocupação da Península Ibérica pelos mouros, estes ordenaram que todas as igrejas fossem convertidas em mesquitas muçulmanas. Os cristãos de Valência quiseram pôr a salvo o corpo do mártir S. Vicente, que estava guardado numa igreja. As Astúrias eram a única região cristã da península. Para levar o corpo para as Astúrias, fizeram-se ao mar. Como as águas estavam turbulentas, foram forçados a aproximar-se da costa. Perguntaram então ao mestre da embarcação que terra tão bonita era aquela. O mestre respondeu-lhes que era o Algarve. Pouco depois o barco encalhou e forçou-os a passar a noite naquele lugar. Na manhã seguinte, quando se preparavam para retomar viagem, avistaram um navio pirata. O mestre da embarcação propôs-lhes afastar-se com o navio para evitar a abordagem dos corsários, enquanto os cristãos se escondiam na praia com a sua relíquia. Depois viria buscá-los. O barco nunca mais voltou e os cristãos ficaram naquele lugar. Construíram um templo em memória de S. Vicente e formaram uma pequena aldeia à sua volta. Entretanto D. Afonso Henriques entrou em guerra com os mouros do Algarve. Como vingança, os mouros, arrasaram a aldeia dos cristãos de S. Vicente e levaram-nos cativos. Passados muitos anos, D. Afonso Henriques foi avisado de que existiam cativos cristãos entre os prisioneiros feitos numa batalha contra os Mouros. Chamados à presença do rei, um deles, já muito velho, contou-lhe a sua história e confidenciou-lhe que tinham enterrado o corpo de S. Vicente num local secreto. Pedia ao rei que resgatasse o corpo do mártir para um local seguro. D. Afonso Henriques resolveu viajar com o cristão a caminho de S. Vicente, mas este morreu durante a viagem. Sem saber o local exato onde estava o santo, D. Afonso Henriques aproximou-se das ruínas do antigo templo. Avistou um bando de corvos que sobrevoavam um certo lugar. Os seus homens escavaram e encontraram o sepulcro de S. Vicente, escondido na rocha. Trouxeram o corpo de S. Vicente de barco para Lisboa e durante toda a viagem foram acompanhados por dois corvos, cuja imagem ainda hoje figura nas armas de Lisboa em testemunho desta história extraordinária.

 -Diz-se que ele é descente desses corvos. Disse o Sr. Joaquim depois de contar a lenda.

 -Incrível essa história, e eu fui salvo por ele.

 -É melhor ires para casa, para a D. Palmira ficar mais descansada.

O pássaro lá foi, D. Palmira ficou contente por ele ter voltado, tratou de uma pequena ferida na pata feita pelos pombos.

Antes de sair D. Palmira deixou-o com uma Cantilena popular.

 Cantilena do Rouxinol
A chover e a dar sol
Na cama do rouxinol;
Rouxinol está doente
Com uma pinga de aguardente.
A chover e a dar sol
Na casa do rouxinol;
Rouxinol está no ninho,
A comer o seu caldinho.
A chover e a dar sol
À porta do rouxinol;
Rouxinol veio à janela,
Logo dar a espreitadela

-Boa noite! Despediu-se ela antes de sair.



8ª CAPITULO


Terça-feira, depois da grande aventura de ontem, o pássaro só quer sair para ouvir mais histórias do corvo, mas desta feita a D. Palmira não o tira da gaiola, mas pendura-a do lado de fora da janela. 

A meio da manhã aparece o corvo ali na rua, todos os pássaros o cumprimentam nota-se que é uma figura importante e estimada por todos, querem ouvir as suas histórias, rimas, aventuras e conselhos. O corvo foi ter com o seu novo amigo para saber como ele estava.

- Que bom teres vindo aqui amigo corvo, hoje fiquei na gaiola acho que não posso sair, mas tenho uma coisa para ti, espero que gostes.

Quem Somos

 Quem somos, senão o que imperfeitamente
sabemos de um passado de vultos
mal recortados na neblina opaca,
precisos rostos mentidos nas páginas
antigas de tomos cujas palavras
não são, de certo, as proferidas,
ou reproduzem sequer actos e gestos
cometidos. Ergue-se a lâmina:
metal e terra conhecem o sangue
em fronteiras e destinos pouco
a pouco corrigidos na memória
indecifrável das areias.
A lápide, que nomeia, não descreve
e a história que o historia,
eco vário e distorcido, é já
diversa e a si própria se entretece
na mortalha de conjecturados perfis.
Amanhã seremos outros. Por ora
nada somos senão o imperfeito
limbo da legenda que seremos.

 -Sim gosto muito, foi “Knopfli” quem escreveu, mas a nossa vida não é só aquilo que nos acontece é aquilo que recordamos dela amigo. Respondeu o Corvo que tudo sabia sobre literatura.

 O corvo abriu a gaiola do pássaro com o bico e disse.

 -Estás em condições de voar?

-Sim. Disse o pássaro que estava muito contente com sua nova amizade e foi a chilrear pela rua fora.

D. Palmira ouvira o barulho vindo da janela e foi ver o que se passava, viu os dois a voar pela rua fora.

 -Saiu outra vez hoje que malandro, bem pelo menos sei que está em boa companhia. Pensou ela alto.

 E lá foi o belo pássaro seguindo o sábio corvo que o levou até Belém junto ao Padrão dos Descobrimentos.

 -Este monumento Padrão dos Descobrimentos é também conhecido como Monumento aos Navegantes, é uma réplica de um outro construído para a Exposição do Mundo Português em 1940 este foi inaugurado em 1960, para as comemorações dos quinhentos anos da morte do Infante D. Henrique o navegador. Disse o Corvo quando já tinham pousado na ponta da caravela.

 -Sabes muita coisa de história, és um sábio. Disse o pássaro que não fazia ideia do que eram os descobrimentos Portugueses,

 -Já o meu avô me dizia, a parte mais importante da história nunca vai estar nos livros, tu és o mais importante por isso dá valor à tua história e tornar-te-ás numa lenda. Foi o que estes homens aqui representados fizeram, não só por eles, mas por uma nação. Muitos deles não concordavam de certo com o que viera a acontecer a seguir, estavam ali pela aventura e por um bem comum.
Mas não se trata só de navegadores, este monumento tem figuras importantes da nossa Historia, ali está Luís Vaz de Camões 

 -É como as pessoas te chamam Camões. Disse o pássaro a sorrir.

 -Sim eu sei mas não me importo, tem a ver com o meu gosto pela História e por rimas. O meu nome é Ivo é assim que me trata a família.

 -O meu é Gandhi mas não sei porquê.  

Então o corvo explicou-lhe quem fora Gandhi:

 -Mohandas Karamchand Gandhi líder do Movimento pela Independência da India foi o idealizador e fundador do moderno Estado Indiano e o maior defensor do Satyagraha (princípio da não-agressão, uma forma não violenta de protesto) como um meio de Revolução contra o imperialismo. Também inspirou gerações de ativistas democráticos e anti-racismo incluindo Martin Luther King. e Nelson Mandela todos eles grandes figuras da historia da Humanidade. Se te tratam assim é porque acham que és um ser sem preconceitos e anti violência.

 -As coisa que tu sabes! Disse o pássaro

 -Sabes Gandhi viajei muito e sempre estive disponível para ouvir os outros ao invés de ouvir só a minha própria voz, ouvir os outros é uma arte, é o melhor remédio para quem deseja ser escutado.

 -É por isso que todos gostam de o ouvir Sr. Ivo. Disse o pássaro que cada vez admirava mais o sábio amigo.

 - Sem senhor, esse está no céu. Respondeu o corvo a rir.

Depois visitaram a Torre de Belém, Mosteiro dos Jerónimos sempre com muitas histórias e saberes do corvo.

De regresso a casa a D. Palmira estava na janela à espera que o pássaro chegasse para levar a gaiola para dentro.

O pássaro entrou na gaiola e chilrou para agradecer a D. Palmira.

Acabou-se a papa doce
Acabou-se a papa doce
Quem comeu arregalou-se

Disse D. Palmira para o pássaro com um grande sorriso, estava feliz por ele porque sabia que aqueles dias passados com corvo jamais seriam esquecidos

 -Até amanhã.

 





9ª CAPITULO

Bullying

Final de tarde a família Monforte chega a casa.

 Joana vinha muito triste e a chorar, fora vítima de Bullying na escola.

 -Conta-me agora o que se passou na escola filha. Diz a mãe muito preocupada.

 -São problemas meus, sou eu que tenho que os resolver. Responde a Joana ainda com uma lágrima na cara.

 -Os problemas aqui em casa são de todos somos uma família, não somos?

 -Mas eu não sou mesmo vossa filha. 

 -Claro que és!! Que conversa é essa Joana?.

 - Fui adoptada, não tenho pais eles morreram.

 -Nós somos os teus pais, meu amor. Quem te meteu isso na cabeça? Diz a mãe muito preocupada com a situação.

 - Meninos lá na escola disseram que vocês não são os meus pais.

 -Claro que somos! Diz a mãe abraçando a pobre criança que chorava compulsivamente.

 -Apesar de não sermos os teus pais biológicos amamos-te tanto como se fosses. Sabes disso, não sabes? Diz Mário abraçando as duas.

 -Sim sei… Mas eles estão sempre a gozar comigo. Respondeu Joana.

 -Vamos falar sobre isso. Quando começou? Perguntou July.

 -Já algum tempo, sempre que não faço o que eles querem gozam comigo, respondeu Joana agora um pouco mais calma.

 -Não tens de dar importância ao que os outros dizem, o que interessa é o que nós sentimos e sabes que te amamos, não sabes? Disse o pai num tom calmo e reconfortante enquanto July abraçava a filha.

 -Sim, eu sei, também os amo muito. Disse a Joana abraçando de novo os dois.

 -Porque não nos contaste mais cedo filha., e quem diz isso? Disse a mãe que se continha para não chorar.

 -Nunca disse porque sempre achei que eram problema meus. São dois ou três colegas que quando eu não faço o que eles querem, dizem-me que nem pais tenho. 

 -Mas o que querem eles que tu faças? Perguntou o Mário.

 -Coisas, ir buscar a bola quando a chutam para longe, andar com as mochilas deles enquanto jogam há bola ou estão a brincar...

 -Não vez que eles fazem isso só para que faças o que eles querem?. Disse Mário. Sempre num tom muito calmo.

 -Sim, no início não ligava, mas eles começaram a espalhar pela escola que eu era adotada.

 - Não tens de ter vergonha de ser adotada. Não tem mal nenhum ser adoptado, tens uma família que te ama, não viste no fim-de-semana a maneira como os avós te trataram? Achas que fazem distinção entre ti e os outros netos? Disse a July.

 -Não mãe, até estão sempre a ligar para saber como estou e como vai a escola. Respondeu a menina agora esboçando um pequeno sorriso.

 -Sabes são crianças e as crianças por vezes podem ser cruéis com as outras, só tens de te afastar deles, não ligar ao que dizem se eles virem que não ligas vão parar de espalhar essas histórias. Disse o Mário.

 -De certeza que não são todos que fazem isso. Disse July.

 -Não, a maioria ralha com eles quando fazem isso. Respondeu a menina.

 -Claro que ralham isso não tem sentido, uns são adoptados outros filhos de pais divorciados, cada vida tem a sua particularidade. Disse Mário.

 -O que é particularidade? Perguntou Joana.

 -Particularidade é uma característica de cada um, somos todos diferentes, é isso que nos distingue dos outros. Respondeu Mário.

 -Estás melhor? Prometes que não vais ligar mais as esses disparates?

 -Sim, ainda bem que falei convosco sobre isto que me andava a entristecer. Respondeu a menina que se sentia muito melhor por desabafar com os pais.

 -O que acham de hoje comer-mos pizza?. Perguntou July.

 -Adoro pizza! Há tanto tempo que não comemos. Disse Joana.

 -Podes ligar para pedir amor? Pediu July a Mário.

 -Tens de ir tomar banho, queres ajuda ou tomas sozinha Joana?

 -Vou sozinha mãe, já sou uma menina crescida, não sou?

 -Pois és. És a minha menina mais linda.

  Enquanto Joana foi tomar banho Mário e July ficaram a conversar sobre as medidas que deviam tomar em relação ao problema. Decidiram ir à escola para saber se tinham conhecimento do problema e para que de futuro ficassem mais atentos.

Pouco depois tocaram a campainha, era o senhor das pizzas, passaram grande parte da noite a conversar e a contar histórias de quando Joana era mais nova.
Atenção aos sinais de Bullying nas crianças.

 A criança que passa por uma situação de Bullying pode tornar-se triste e introspectiva, se há suspeita que a criança está a ser vítima de algum tipo de agressão física ou mental deve falar com a criança de uma forma calma e deixa-la à vontade para falar sobre o assunto.
 Se a situação for na escola deve confrontar os responsáveis muitas vezes a escola rejeita a situação e diz que os meninos em questão não eram capazes de fazer isso com uma colega, ou então são coisas de crianças, não deixe que as crianças vítimas de Bullying passem como mentirosos ou queixinhas, se a situação persistir deve anotar os factos com datas para depois confrontar os responsáveis.

 Por vezes conversar de forma calma com a criança é o suficiente, mas noutros casos pode ser necessário consultar um psicólogo.

 Bullying não é brincadeira.