1ª
CAPITULO
Esta
é uma fábula de um pássaro que queria voar para lá da sua gaiola.
-
Tenho de sair desta gaiola para conhecer mundo. Um sábio disse-me que "A
vida não é mais que uma gota de orvalho numa folha de lótus" Rabindranath
Tagore,
O
belo pássaro que passara toda a sua vida numa gaiola estaria agora na
disposição de arriscar para o seu primeiro voo, mas tinha de esperar a sua
oportunidade de apanhar a gaiola aberta.
-
Tenho de sair, acho que aqui fui feliz, mas gostava de sair desta gaiola
vislumbrar um pouco a natureza.
Ali
o pobre pássaro pouco podia fazer a não ser cantar e comer, para ele isso já
não era o suficiente para ser feliz.
Certo
dia o pássaro ao ver a gaiola aberta ganhou coragem e saiu para o parapeito da
janela, mas faltava-lhe ainda a coragem para voar e voltou a entrar na gaiola.
-
Virá a altura certa, acredito que não foi hoje, mas tenho a certeza que na
próxima oportunidade vou conseguir voar.
O
pequeno pássaro nos dias seguintes sempre que podia batia as asas na esperança
de um dia poder voar.
-
Sei que quando partir vou sentir saudades do meu pequeno mundo, desta gente que
me tratou e abrigou. Cada um tem a sua vida e cada um tem o seu caminho sinto
que agora é o momento de partir em busca de algo com que sonho.
Numa
bela manhã solarenga a sua gaiola foi pendurada do lado de fora da janela, como
era habitual em dias de sol.
Aquela
rua de Lisboa era tudo o que conhecia do mundo exterior.
Como
se sentia bem naqueles dias em que via as pessoas sair do elevador e meter-se
com ele, o Sr. Joaquim o dono da mercearia de baixo assobiava para ele.
Ao
fim do dia pensou que era agora o momento de partir, tentou com o bico abrir a
porta da gaiola, depois de muitas tentativas lá conseguiu abri-la, voou para
cima do candeeiro mais próximo e pensou:
-É
o meu primeiro voo, vou tentar voar de candeeiro em candeeiro até ao fim da
rua.
Ao
pousar no terceiro candeeiro, o pobre pássaro estava cansado, voltou para trás
e entrou de novo na sua gaiola. Não faz mal voltar para trás, amanhã tento de
novo. Se fracassar, pelo menos tentei.
2ª
CAPITULO
Durante as semanas seguintes
o pássaro foi tentando voar um pouco mais, havia um mundo a ser descoberto para
lá daquela rua. De candeeiro em candeeiro foi chegado cada fez mais longe,
voltou sempre à sua gaiola porque sabia não estar pronto para voos maiores.
-Volto sempre para a gaiola
porque sei que os primeiros voos são os mais difíceis, porém os mais
importantes. Repito sempre, mas não complico, por agora é tudo um pouco
repetitivo, mas repetir também é aprender.
O Sr. Joaquim que já há
muito via o pássaro sair da gaiola nos dias de sol, dizia:
- Ó lindo pássaro de penas
verdes e azuis, eu sei que fizeste os primeiros voos, que tal agora tentares
planar um pouco também?
E o pássaro respondeu:
- Tudo tem o seu tempo Sr.
Joaquim, por favor não conte nada a ninguém destes meus pequenos voos!
E o Sr. Joaquim disse:
- Sei que quando partires
sentirei a falta do teu chilrear, mas estarei orgulhoso da tua sede de conheceres
outros mundos. Estendeu a mão para o pássaro pousar.
O pássaro apesar do medo de
tal acto voou para a mão do Sr. Joaquim, já não tinha medo de errar, já falhara
por medo de tentar.
Já com pássaro na mão, o Sr.
Joaquim disse:
- Não sejas tímido, como
dizia Pablo Neruda "A timidez é uma condição alheia ao coração, uma
categoria, uma dimensão que desemboca na solidão."
-Mais que uma mão estendida,
mais do que a alegria de dividir os teus sonhos tens aqui um amigo também. Como
eu gostaria de “voar” meu amigo!
Continuou o Sr. Joaquim depois
de uma pequena pausa:
-Vou contar-te um segredo. Passei
a minha vida nesta mercearia, acho que fui feliz, criei os meus filhos e netos,
vi as crianças desta rua crescer, agora que já estou velho resta-me pouco para
fazer.
-Vai até ao fundo da rua e
olha para lá do rio, hás-de ver o Cristo Rei foi o mais longe fui até hoje,
olhar lá de cima e ver a cidade àquela distância foi o mais perto que estive de
“voar”, essa é a imagem que tenho do mundo. Foi lá que pedi a minha falecida
esposa em casamento, faz este mês 50 anos., vamos combinar uma coisa, quando
estiveres preparado para voar até lá avisa-me que vou lá ter contigo, aquele
sítio traz-me muitas recordações.
O pássaro ficou curioso com
as palavras do Sr. Joaquim, levantou voo e sem se aperceber foi até ao fundo da
rua, pousou numa chaminé dum prédio alto, e viu o “homem de braços abertos” que
ficava para lá do rio e calculou que fosse o Cristo Rei de que o Sr. Joaquim
falava.
3ª
CAPITULO
Há vários dias que não sai
de casa por culpa da chuva que veio esta semana, mas isso não o deixa
desanimado, olha pela janela e pensa que já não tem medo das tempestades nem
das ventanias fortes, o que sente é uma enorme ansiedade de mergulhar no que
ainda tem para viver.
O pássaro vai declamando
poemas naquelas tardes chuvosas para passar o tempo.
Não sei
quantas almas tenho
Não sei
quantas almas tenho.
Cada momento
mudei.
Continuamente
me estranho.
Nunca me vi
nem achei.
De tanto
ser, só tenho alma.
Quem tem
alma não tem calma.
Quem vê é só
o que vê,
Quem sente
não é quem é,
Atento ao
que sou e vejo,
Torno-me
eles e não eu.
Cada meu
sonho ou desejo
É do que
nasce e não meu.
Sou minha
própria paisagem;
Assisto à
minha passagem,
Diverso,
móbil e só,
Não sei
sentir-me onde estou.
Por isso,
alheio, vou lendo
Como
páginas, meu ser.
O que segue
não prevendo,
O que passou
a esquecer.
Noto à
margem do que li
O que
julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
No final dum desses dias de chuva, os donos July e Mário ao entrar em casa aperceberam-se
do chilrear do pássaro muito activo.
- Que se passa com o pássaro que tem andado tão activo ultimamente, não
para de pular na gaiola e passa os dias a chilrear? Pergunta o Mário:
-Não sei! Deve ser da chuva lá fora. Responde July:
- Estava a declamar um poema pai. Diz a Joana
- Que parvoíce filha um pássaro a declamar, nem digas isso a mais ninguém senão
dizem que és louca. Diz o pai com um ar surpreendido.
-Mas estava, que eu ouvi. Insiste a menina.
O pássaro a quem a família chamava de Gandhi por ser muito
calmo parou de chilrear, assim que os pais entraram na cozinha para preparar o
jantar. Ficou a olhar para menina que se aproximou da gaiola.
- Estavas a declarar um poema, não estavas?
Quem te ensinou? Perguntou Joana com um olhar de ternura para o pássaro, de seguida
abriu-lhe a gaiola contrariando as ordens dos pais, para nunca a abrir.
O pássaro depois de ficar surpreendido com o
acto de Joana saiu da gaiola para o seu ombro.
-Tu percebes o que eu digo Joana? De tanto
ouvir o teu pai aqui na sala a ler poesia para a tua mãe, aprendi algumas. Disse
o pássaro.
- Sim percebo, mas nem sempre percebi, só há algumas semanas comecei a
perceber tudo o que dizes. Respondeu Joana
-O que é estranho é que nem todos me percebem. Disse o pássaro com um tom
de ternura para com a menina.
Joana levou a mão ao ombro e o pássaro saltou para o dedo dela.
De seguida a menina aproximou o
pássaro da sua cara e sussurrou-lhe:
- A minha avó materna também tinha um rouxinol, passei muitas tardes a
falar com ele, fazia-lhe perguntas sobre os meus pais biológicos porque eu não
tinha memórias deles, a minha avó nunca se importou com o facto de eu falar com
um pássaro pois achava que me poderia ajudar a vencer a solidão daquela casa em
que vivíamos as duas.
Joana tinha 9 anos, uma menina de voz doce e meiga, cabelos louros como
ouro, olhos verdes cor de esmeralda. Vivera com a sua avó até aos 6 anos, até esta
falecer. Ficara órfã de pai e de mãe aos dois anos após um acidente trágico de
carro num dia de tempestade em que foi a única sobrevivente.
Era filha adotiva deste casal. A mãe,
de July era Inglesa e por vezes notava-se um pequeno sotaque, Mário, vinha de
uma família abastada.
O pequeno pássaro estava radiante com a doce menina de olhos claros e voz
doce e meiga que lhe sussurrava ao ouvido um pouco da sua história.
- Também eu perdi a minha família muito novo, mas vocês acolheram-me tenho
sido muito bem tratado aqui. Disse o pássaro num tom de agradecimento.
Tinha sido encontrado por Joaninha num jardim ali perto depois de uma
enorme tempestade que destruiu o seu ninho, a partir desse dia nunca mais vira
os seus progenitores.
- Era o mínimo que podíamos fazer por ti meu amigo, temos uma história
parecida. Disse Joana num tom doce ao mesmo tempo que passava a outra mão pelas
penas do pássaro para o reconfortar.
- Estou muito grato por me terem dado abrigo. Disse o pássaro.
- Com quem estas a falar Joaninha? Perguntou a mãe que estava na cozinha.
O pássaro voo de novo para a gaiola antes que aparecesse alguém na sala.
- Estava ao telefone com uma colega da escola. Respondeu a menina.
- Muito têm vocês para falar! Ainda agora saíste e já estão ao telefone.
Disse o pai que passou pela sala e foi para o escritório.
-Vou para o quarto fazer os trabalhos. Disse a menina num tom alto para a
mãe que estava na cozinha ouvir.
Joaninha agarrou na gaiola e levou-a
para o quarto como fazia por vezes porque gostava de ouvir o pássaro cantar.
- Vamos para o meu quarto Gandhi, vamos ouvir música enquanto faço os
trabalhos. Disse a Joaninha para o pássaro agora num tom baixo para mais
ninguém ouvir.
Passaram um resto de tarde agradável
a ouvir musica e a falar das suas vivências como se de dois seres humanos se
tratasse.
4ª
CAPITULO
O sol voltara a Lisboa, como
fica bonita a cidade nestes dias de primavera com um céu azul e uma luz que
poucas cidades do mundo têm. As ruas da Baixa enchem-se de turistas que
procuram absorver cada raio de sol ao mesmo tempo que viajam nos elétricos e
elevadores, tentando conhecer cada recanto das ruas mais típicas da Cidade.
Era sexta-feira, D. Palmira
a senhora que trabalhava para a família e tomava conta de Joana, fazia as lides
da casa e as compras para a família durante a semana. A primeira coisa que
fazia quando chegava a casa era abrir as janelas para arejar a casa e começar
mais um dia de trabalho, de seguida tratava da gaiola do pássaro, limpava-a e
punha comida e água fresquinha.
Fui à fonte
beber água
Ao rio para te falar,
Nem na fonte nem no rio
Nunca te pude encontrar.
Dá-me uma gotinha de água
Dessa que eu oiço correr,
Entre pedras e pedrinhas
Alguma gota há-de haver.
Alguma gota há-de haver
Quero molhar a garganta,
Quero cantar como a rola
Como a rola ninguém canta.
Fui à fonte beber água
Achei um raminho verde,
Quem o perdeu tinha amores
Quem o achou tinha sede.
Ao rio para te falar,
Nem na fonte nem no rio
Nunca te pude encontrar.
Dá-me uma gotinha de água
Dessa que eu oiço correr,
Entre pedras e pedrinhas
Alguma gota há-de haver.
Alguma gota há-de haver
Quero molhar a garganta,
Quero cantar como a rola
Como a rola ninguém canta.
Fui à fonte beber água
Achei um raminho verde,
Quem o perdeu tinha amores
Quem o achou tinha sede.
Musica tradicional Alentejana
Cantava a D. Palmira que
gostava de cantarolar músicas tradicionais Alentejanas, terra que a viu nascer.
D. Palmira é uma senhora muito bem-disposta que adora cantar e responder em
provérbios.
Tem 65 anos e três filhos, dois deles
imigraram para França nos anos 90,ela vive numa casa em Alfama com o marido e a
sua filha mais nova Sónia, tem 25 anos estuda filosofia na universidade
católica em Lisboa, quando os pais de Joana têm de viajar é Sónia que fica como
baby sitter de Joana para ajudar a mãe. Acontece com alguma frequência devido às
profissões dos pais de Joana.
Mário é biólogo, tem que viajar muitas vezes
para os Açores onde faz mergulho para estudar espécies marinhas, July é sócia
de uma agência de viagens que organiza voos charter de Inglaterra para o
Algarve e Lisboa, tem de se deslocar por vezes a Faro onde tem uma delegação da
agência.
Levou a gaiola e pendurou-a
do lado de fora junto à janela e foi fazer o seu trabalho.
. - Como é bom este sol, só
me apetece cantar também. Dizia o pássaro para uma andorinha que pousara num
telhado ali próximo.
E cantou.
Passarinho da ribeira
Se não fores meu inimigo [bis]
Empresta-me as tuas asas
Deixa-me ir voar contigo
Passarinho da ribeira
Ai!...Se não fores meu inimigo
Ao longe cruzando o espaço
Vai um bando de andorinhas [bis]
Vai um bando de andorinhas [bis]
Que te leva um abraço
E muitas saudades minhas
E muitas saudades minhas
Ao longe cruzando o espaço
Ai!...Vai um bando de andorinhas
Ai!...Vai um bando de andorinhas
Fernando Carvalho (Ilha das Flores)
Música tradicional dos Açores
Depois de fazer as lides da
casa já perto da hora de almoço, D. Palmira descera para fazer algumas compras
na mercearia do Sr. Joaquim.
Já na porta da mercearia.
- Como canta hoje o belo pássaro D. Palmira. Disse o Sr. Joaquim.
-É verdade, ultimamente tem andado assim, deve ser da primavera. Respondeu D.
Palmira com um sorriso rasgado no rosto.
- Acho que ele gostaria de fazer voos maiores para lá daquela gaiola.
Respondeu o Sr Joaquim, como que informando a D. Palmira para a vontade do
pássaro de sair e conhecer mundo.
-Sabe que já a Joana noutro dia me pediu para de vez em quando o deixar
sair da gaiola que ele estava a precisar de bater um pouco as asas, mas os
senhores não querem que ele ande solto pela casa. Respondeu ela com uma
expressão agora mais séria.
Ficaram os dois durante breves
momentos a sorrir e a olhar o pássaro que não parava de chilrear. Depois
entraram na mercearia para a D. Palmira fazer as suas compras para o almoço e
para organizar as coisas para o jantar da família.
O pássaro nessa tarde não parou de
chilrear até que a D. Palmira foi buscar de novo a gaiola para dentro de casa
para se ir embora depois do dia de trabalho.
Mas a não saiu sem lhe deixar uma lengalenga como era seu hábito.
Pico, pico serapico
Pico, pico serapico
Quem te deu tamanho bico?
Ou de ouro ou de prata
Mete a mão neste buraco
Pico, pico serapico
Quem te deu tamanho bico?
Foi o filho do Luís
Que está preso pelo nariz
Pico, pico serapico
Quem te deu tamanho bico?
Foi a filha da rainha
Que está presa na cozinha
Salta pulga da balança
E vai ter até à França
Cavalinhos a correr
Meninas a aprender
Qual é a mais bonita
Que se irá esconder
Lengalenga popular
- Responde
o pássaro.
Romance de 10 meninas casadoiras
São 10 meninas e sobre elas chove
Mas chega um bombeiro e ficam só 9.
São 9 meninas comendo biscoitos
Mas chega um padeiro e ficam só 8.
São 8 meninas fazendo uma omolete
Mas chega um guloso e ficam só 7.
São 7 meninas pintando papéis
Mas chega um pintor e ficam só 6.
São 6 meninas à volta de um brinco
Mas chega o ourives e ficam só 5.
São 5 meninas que vão ao teatro
Mas chega um actor e ficam só 4.
São 4 meninas falando francês
Mas chega um estrangeiro e ficam só 3.
São 3 meninas guardando ovelhas
Mas chega um pastor e ficam só 2.
São 2 meninas nadando na espuma
Mas chega um barqueiro e fica só 1.
É uma menina a apanhar caruma
Mas chega um leão, não fica nenhuma
Lengalenga popular
-Bom fim-de-semana, volto segunda-feira.
Despediu-se a D. Palmira do pássaro com um grande sorriso nos lábios.
5ª CAPITULO
Douro
July tinha
de ir ao Porto numa viajem de negócios devido há enorme procura de turistas britânicos
pelo Douro vinhateiro, a sua empresa estava a preparar um pacote especial para
o fim-de-semana com viajem, alojamento, um cruzeiro no rio Douro seguido de uma viagem no
comboio histórico a vapor entre a Régua e a estação do Tua à descoberta das mais belas paisagens
do Douro. Os turistas são também convidados a participar numa vindima durante a
manhã e à tarde a fazer parte das “lagaradas”,
onde as uvas são colocadas nos antigos lagares de granito, depois pisadas num
ambiente festivo, onde se canta e dança celebrando o ano vinícola. Neste festim
não vão faltar as iguarias regionais e vinho, muito vinho.
July tinha uma lista de possíveis
locais a visitar: Como era uma viagem, para conhecer alguns locais e
estabelecer contactos, decidiu ir em família.
De manhã cedo apanharam o comboio
em Lisboa, na estação
de Santa Apolónia para Vila Nova de Gaia, chegaram
às 10:45h..
A primeira visita foi às caves do vinho do
Porto. Os armazéns, têm um ambiente calmo com luz
amena e temperatura controlada, durante a visita são descritos os procedimentos
para obter o vinho do Porto no seu precioso processo de envelhecimento.
Já no cais de Gaia viram os Barcos Rebelos, Uma embarcação portuguesa, típica do Rio Douro que transportava as pipas de vinho do Porto do Alto Douro, até Vila Nova de Gaia, onde o vinho era armazenado e, posteriormente comercializado.
Cerca do meio-dia embarcaram a bordo de um Barco. Trata-se de uma barcaça onde Joana e a sua família almoçaram, tinha também uma área de lazer ao ar livre com espreguiçadeira onde se sentaram depois de almoço para desfrutar da viagem.
Está a ser um passeio espectacular com paisagens naturais que deixam qualquer um com a respiração suspensa, vão mudando de cor entre vegetação e penhascos xistosos ocupados com vinhas, na água do rio refletem-se essas paisagens com a modelação da paisagem em socalcos como se de um quadro luminoso se tratasse.
A Unesco elevou o Alto Douro Vinhateiro a Património da Humanidade em Dezembro de 2001, como uma “paisagem cultural, evolutiva e viva.
Chegaram há Régua, apanharam o comboio a vapor em direcção á estação do Tua, viagem que demora cerca de uma hora. A viagem é marcada mais uma vez pelas paisagens.
Já perto do fim da tarde regressaram à Régua onde ficaram hospedados numa quinta rodeada de muros de xisto em pleno coração do Douro, que se estende ao longo das margens do Rio Corgo, onde este se encontra com o Douro,.
Depois de jantar fizeram uma pequena visita às caves da quinta, beberam um Porto e foram-se deitar, pois no dia seguinte tinham um dia muito ocupado.
6ª CAPITULO
Dia da mãe
July e Joana tinham preparado uma surpresa a Mário, convidaram os pais
dele que tinham uma herdade em Vila Nova de Foz Côa mas viviam na Africa do Sul para
o surpreender durante a visita que tinha planeado fazer ao Parque
Arqueológico do Vale
do Côa.
Estavam eles a ver umas
gravuras esculpidas nas pedras de xisto quando apareceu a mãe de Mário.
- Meu filho!!! Disse a mãe
de Mário.
Mário virou-se surpreendido
ao reconhecer voz da sua mãe.
- Mãe que faz aqui? Ainda
esta manhã falamos e estava na Africa do Sul. Disse ele surpreendido.
- Foi uma surpresa filho,
que Joaninha preparou para ti com a ajuda de July, não te podia dizer que
estava cá para não a estragar. Disse a mãe ao mesmo tempo que o abraçava com
uma forte saudade.
- Mãe, Pai, que bom estarem
aqui logo hoje dia da mãe. E foi abraçar o pai que também já não via há mais de
dois anos.
- Avó obrigado por aceitar
fazer esta surpresa ao pai. Disse a Joana que também abraçou a avó.
- Eu é que agradeço pela
ideia pois estávamos cheios de saudades vossas! Respondeu a avó já com uma lágrima
no olho ao mesmo tempo que abraçava fortemente a Joana.
Durante a visita o avô foi
explicando todas as gravuras, ele sabia muita coisa sobre todo o Parque pois
nascera ali perto.
-São uma concentração de
arte rupestre composta por gravuras em pedra datadas do Paleolítico Superior, é
o mais antigo registo de actividade humana existente no mundo, explicou o avô.
O pai de Mário chamava-se Carlos
de Monforte a mãe Maria de Monforte, foram para a Africa do Sul nos anos 80
onde tinham uma cadeia de supermercados.
No final da visita foram
para a herdade onde tinham uma grande almoçarada preparada.
- Mãe quando regressam de
vez a Portugal? Perguntou o Mário durante o almoço.
- Estamos a pensar nisso mas
temos de deixar as coisas bem feitas para o teu irmão o gerir, sabes que não é
um local fácil para gerir um negocio. Respondeu a Mãe.
- Sim sei, mas acho que o
João já está preparado para o gerir, já trabalha convosco há 7 anos. Respondeu o
Mário.
João é o irmão mais novo do
Mário.
- Sim também sou da mesma
opinião só falta tratar de alguns detalhes, para podermos regressar, já é ele
que gere a empresa. Respondeu agora o Sr. Carlos Monforte com um sorriso de
orgulho no filho.
- Que pena a sua família não
poder vir July. Disse a Dona Maria.
- Pois… Também gostava mas
não foi possível. Foi tudo em cima da hora ela não podia sair de Londres nesta
altura. Respondeu July com uma expressão triste.
-Mas não faz mal, estou na
mesma em família. Continuo July agora com um grande sorriso.
- E tu, meu amor como vai a
escola? Perguntou a Dona Maria a Joana.
- Vou bem avó, estamos no último
período, a contar os dias para as férias. Respondeu a Joana contente.
- Mas não gostas da escola?
- Claro que gosto avó, tenho
lá todos os meus amigos mas também gosto das férias, praia, viagens, etc.
E ficaram todos a rir
durante um bocado.
- Avó tens de ir lá a casa
conhecer o Gandhi.
- O Gandhi!!!
- Sim o nosso rouxinol que
encontramos no Jardim, caiu do ninho depois de um temporal. Disse a Joana.
- Há sim! Sendo um rouxinol deve gostar de
cantar. Disse o Sr. Carlos assobiando como um rouxinol.
Ficaram todos a rir e
conversar durante a tarde.
Já no final da tarde foram
todos para o Aeroporto do Porto, tinham de regressar, Joana tinha de ir para a
escola no dia seguinte e os Monforte tinham voo marcado para a Africa do sul.
Já no avião. Joana mal
entrou no avião para Lisboa adormeceu com um sorriso na cara estava cansada mas
muito feliz.
Obrigado amor por esta surpresa, tinha muitas
saudades deles pena ser tão pouco tempo. Disse Mário para Judy e beijou-a.
- Sim para a próxima tenho
de tratar tudo com mais tempo de antecedência.
- Foi pouco tempo mas deu
para matar saudade e a Joana ficou muito feliz vê com se ri a dormir. Disse
Mário e beijou de novo July.
7ª CAPITULO
O corvo
Segunda-feira em Lisboa,
mais um dia de trabalho para D. Palmira, como de costume abre a janelas, vai
tratar da gaiola
do pássaro, lembra-se de uma conversa que tivera com Joana em que esta lhe
pediu para de vez em quando abrir a gaiola e achou que hoje era um bom dia para
isso, pois a
família ia chegar mais tarde porque tinha um jantar em casa de um casal amigo.
O pássaro aproveitando
tamanha oportunidade saiu da gaiola e voou para a rua onde pousou em
cima do toldo da mercearia do Sr. Joaquim.
D. Palmira ficou apavorada
por ter deixado o pássaro fugir e foi para a janela chamar por ele.
O pássaro não parava de
chilrear, o Sr. Joaquim ao ouvir tamanho alarido veio à rua
ver o que se passava.
-Ele fugiu-me.-
Gritava ela
lá de cima e saio da janela para descer á rua.
-Vais dar um passeio? Tem atenção aos pombos e
a algumas pessoas que podem não querer o teu bem. E não te preocupes com a D.
Palmira que eu converso com ela.
Estava a D. Palmira a chegar
quando o pássaro levantou voo pela rua fora até se perder de vista.
-Que desgraça, agora como vou explicar aos
senhores que deixei fugir o pássaro. Disse ela, com cara de pânico.
- Não se preocupe que ele há-de
voltar, só precisa de voar um pouco. Respondeu o S. Joaquim ficando
a olhar para o fundo da rua.
- Tem a certeza? Disse ela.
- Tenho sim. Respondeu ele.
Ficaram algum tempo os dois
a olhar para o céu, pouco depois D. Palmira subiu para acabar as tarefas da casa já
um pouco mais calma.
O pássaro voou
toda a manhã pelas ruas e praças da Baixa de Lisboa, até que teve sede a parou
no alto de um telhado na Praça do Rossio.
Lá do alto viu uma fonte no
meio da praça, mas teve algum receio de lá ir pois estava cheia de pombos.
- Que mal me podem fazer os
pombos. Pensou o pássaro.
E foi pousar
mesmo na beira da fonte.
Os pombos que não gostavam
muito de concorrência foram logo ter com ele.
-Olha que lindo pássaro aqui na nossa fonte.
Disse o pombo mais velho para os outros que se apressaram
a cercá-lo.
- Deves ser novo aqui,
fugiste de alguma gaiola? Disse outro pombo ao
mesmo tempo que lhe bicava os pés.
- Só queria beber água,
deixa-me em paz. Disse o pássaro aflito com tamanha falta de compreensão.
- Beber
água!
coitadinho está com
sede. Quer beber água na nossa fonte.
E por ali ficaram durante um
algum tempo sem
que ninguém fizesse nada para tirar o pobre pássaro daquela situação.
No alto de um dos prédios
estava um corvo que viu toda a situação e resolveu intervir.
Fez um voo picado para ganhar velocidade e pousou no
meio da roda de pombos que cercavam o pássaro.
-A cidade não é vossa para decidirem
quem pode ou não beber água nessa fonte. Disse o corvo com ar
intimidador para os pombos.
Os pombos afastaram-se, pois não queriam
problemas com aquele corvo.
-Vem, bebes água
no meu bebedouro. Disse o corvo para o pobre pássaro que tremia de medo.
Voaram os dois para o
telhado de um prédio situado ali na praça, onde o corvo tinha as suas coisas no terraço da
casa de uma velha senhora florista que tinha ali próximo uma banca de flores.
Já depois de beber água
o pássaro agora mais calmo, já percebera que estava em segurança, agradeceu ao
corvo negro e de bico laranja.
-Obrigado por me tirares daquela situação.
Vives aqui? Não tens gaiola? Disse o pássaro para o corvo que se notava ter já
alguma idade.
-Sim é aqui que vivo, estou farto desses
pombos que tomaram a cidade e dela fazem o que querem sem respeito por nada nem
ninguém.
Sou o corvo de Lisboa que por
aí anda a
voar
para os turistas me fotografar.
Minhas histórias conto em
rima,
para a todos agradar.
De manhã vou à
ribeira
com os pescadores conversar
que trazem sempre histórias lindas
para eu as poder contar.
Já corri meio mundo
mas acabei sempre por regressar
a esta cidade maravilhosa
que tem muito para mostrar.
Disse o Corvo que gostava
muito de rimar.
-Que bom, deves ter uma vida cheia
de aventuras. Disse o pássaro que olhava para o corvo com uma
certa inveja.
-Sim não me posso queixar.
E ali passou uma bela tarde
com o corvo entre as estrofes e as rimas.
O corvo acompanhou o pequeno
pássaro até à
sua rua, não fossem os pombos voltar a meter-se com
ele. Depois voltou para o Rossio.
Quando chegou o Sr. Joaquim
estava na porta da mercearia à sua espera.
-Vejo que conheces-te o Camões.
Disse ele.
-Camões! Disse o pássaro sem perceber de quem
se tratava.
-Sim o corvo, é
assim que toda a gente o trata.
.-Claro… Toda a gente aqui o
conhece.
-Reza a lenda que:
Lenda dos
Corvos de S. Vicente
No tempo da ocupação da Península Ibérica pelos
mouros, estes ordenaram que todas as igrejas fossem convertidas em mesquitas
muçulmanas. Os cristãos de Valência quiseram pôr a salvo o corpo do mártir S.
Vicente, que estava guardado numa igreja. As Astúrias eram a única região
cristã da península. Para levar o corpo para as Astúrias, fizeram-se ao mar.
Como as águas estavam turbulentas, foram forçados a aproximar-se da costa.
Perguntaram então ao mestre da embarcação que terra tão bonita era aquela. O
mestre respondeu-lhes que era o Algarve. Pouco depois o barco encalhou e
forçou-os a passar a noite naquele lugar. Na manhã seguinte, quando se
preparavam para retomar viagem, avistaram um navio pirata. O mestre da
embarcação propôs-lhes afastar-se com o navio para evitar a abordagem dos
corsários, enquanto os cristãos se escondiam na praia com a sua relíquia.
Depois viria buscá-los. O barco nunca mais voltou e os cristãos ficaram naquele
lugar. Construíram um templo em memória de S. Vicente e formaram uma pequena
aldeia à sua volta. Entretanto D. Afonso Henriques entrou em guerra com os
mouros do Algarve. Como vingança, os mouros, arrasaram a aldeia dos cristãos de
S. Vicente e levaram-nos cativos. Passados muitos anos, D. Afonso Henriques foi
avisado de que existiam cativos cristãos entre os prisioneiros feitos numa
batalha contra os Mouros. Chamados à presença do rei, um deles, já muito velho,
contou-lhe a sua história e confidenciou-lhe que tinham enterrado o corpo de S.
Vicente num local secreto. Pedia ao rei que resgatasse o corpo do mártir para
um local seguro. D. Afonso Henriques resolveu viajar com o cristão a caminho de
S. Vicente, mas este morreu durante a viagem. Sem saber o local exato onde
estava o santo, D. Afonso Henriques aproximou-se das ruínas do antigo templo.
Avistou um bando de corvos que sobrevoavam um certo lugar. Os seus homens
escavaram e encontraram o sepulcro de S. Vicente, escondido na rocha. Trouxeram
o corpo de S. Vicente de barco para Lisboa e durante toda a viagem foram
acompanhados por dois corvos, cuja imagem ainda hoje figura nas armas de Lisboa
em testemunho desta história extraordinária.
-Diz-se que ele
é descente desses corvos. Disse o Sr. Joaquim depois de contar a lenda.
-Incrível essa
história, e eu fui salvo por ele.
-É melhor ires
para casa, para a D. Palmira ficar mais descansada.
O pássaro lá foi, D. Palmira ficou contente por ele
ter voltado, tratou de uma pequena ferida na pata feita pelos pombos.
Antes de sair D. Palmira deixou-o com uma Cantilena popular.
Cantilena do
Rouxinol
A chover e a
dar sol
Na cama do
rouxinol;
Rouxinol está
doente
Com uma pinga
de aguardente.
A chover e a
dar sol
Na casa do
rouxinol;
Rouxinol está
no ninho,
A comer o seu
caldinho.
A chover e a
dar sol
À porta do
rouxinol;
Rouxinol veio à
janela,
Logo dar a
espreitadela
-Boa noite! Despediu-se ela
antes de sair.
8ª CAPITULO
Terça-feira,
depois da grande aventura de ontem, o pássaro só quer sair para ouvir mais histórias
do corvo, mas desta feita a D. Palmira não o tira da gaiola, mas pendura-a do
lado de fora da
janela.
A meio da manhã aparece o
corvo ali na rua,
todos os pássaros o cumprimentam nota-se que é uma figura importante e estimada
por todos, querem ouvir as suas histórias,
rimas, aventuras
e conselhos. O corvo foi ter com o seu novo amigo
para saber como ele estava.
- Que bom teres vindo aqui
amigo corvo, hoje fiquei na gaiola acho que não posso sair, mas
tenho uma coisa para ti, espero que gostes.
Quem Somos
Quem somos, senão
o que imperfeitamente
sabemos de um passado de vultos
mal recortados na neblina opaca,
precisos rostos mentidos nas páginas
antigas de tomos cujas palavras
não são, de certo, as proferidas,
ou reproduzem sequer actos e gestos
cometidos. Ergue-se a lâmina:
metal e terra conhecem o sangue
em fronteiras e destinos pouco
a pouco corrigidos na memória
indecifrável das areias.
A lápide, que nomeia, não descreve
e a história que o historia,
eco vário e distorcido, é já
diversa e a si própria se entretece
na mortalha de conjecturados perfis.
Amanhã seremos outros. Por ora
nada somos senão o imperfeito
limbo da legenda que seremos.
-Sim gosto
muito, foi “Knopfli” quem escreveu, mas a nossa vida não é só aquilo que nos
acontece é aquilo que recordamos dela amigo. Respondeu o Corvo que tudo sabia
sobre literatura.
O corvo abriu a gaiola do pássaro com o bico e
disse.
-Estás em condições de voar?
-Sim. Disse o pássaro que
estava muito contente com sua nova amizade e foi
a chilrear pela rua fora.
D. Palmira ouvira o barulho
vindo da janela e foi ver o que se passava, viu os dois a voar pela rua fora.
-Saiu outra vez hoje que
malandro, bem pelo menos sei que está em boa companhia. Pensou ela
alto.
E lá foi o belo pássaro seguindo o sábio corvo
que o levou até Belém junto ao Padrão dos Descobrimentos.
-Este monumento Padrão dos Descobrimentos é
também conhecido como Monumento aos Navegantes, é uma réplica de um outro
construído para a Exposição do Mundo Português em 1940 este foi inaugurado em
1960, para as comemorações dos quinhentos anos da morte do Infante D. Henrique
o navegador. Disse o Corvo quando já tinham pousado na ponta da caravela.
-Sabes muita coisa de história, és
um sábio. Disse o pássaro que não fazia ideia do que eram os
descobrimentos Portugueses,
-Já o meu avô me dizia, a
parte mais importante da história nunca vai estar nos livros, tu és o mais
importante por isso dá valor à tua história e tornar-te-ás numa lenda. Foi o
que estes homens aqui representados fizeram, não só por eles, mas por uma
nação. Muitos deles não concordavam de certo com o que viera a acontecer a
seguir, estavam ali pela aventura e por um bem comum.
Mas não se trata só de
navegadores, este monumento tem figuras importantes da nossa
Historia, ali
está Luís Vaz
de Camões
-É como as pessoas te chamam Camões. Disse o
pássaro a sorrir.
-Sim eu sei mas não me importo, tem
a ver com o meu gosto pela História e por rimas. O meu nome é Ivo é
assim que me trata a família.
-O meu é Gandhi mas não sei porquê.
Então o corvo explicou-lhe quem fora Gandhi:
-Mohandas
Karamchand Gandhi líder do Movimento pela Independência da
India foi o
idealizador e fundador do moderno Estado Indiano e o maior defensor do
Satyagraha (princípio da não-agressão, uma forma não violenta de protesto) como
um meio de Revolução contra o imperialismo. Também inspirou gerações de
ativistas democráticos e anti-racismo incluindo Martin Luther King. e Nelson Mandela todos eles
grandes figuras da historia da Humanidade. Se te tratam assim é porque acham
que és um ser sem preconceitos e anti violência.
-As coisa que tu sabes! Disse o pássaro
-Sabes Gandhi viajei muito e sempre estive
disponível para ouvir os outros ao invés de ouvir só a minha própria voz, ouvir
os outros é uma arte, é o melhor remédio para quem deseja ser escutado.
-É por isso que todos gostam de o ouvir Sr.
Ivo. Disse o pássaro que cada vez admirava mais o sábio amigo.
- Sem senhor, esse está no céu. Respondeu o
corvo a rir.
Depois visitaram a Torre de
Belém, Mosteiro dos Jerónimos sempre com muitas histórias e saberes do corvo.
De regresso a casa a D.
Palmira estava na janela à espera que o pássaro chegasse
para levar a gaiola para dentro.
O pássaro entrou na gaiola e
chilrou para
agradecer a D. Palmira.
Acabou-se a papa doce
Acabou-se a papa doce
Quem comeu arregalou-se
Disse D. Palmira para o
pássaro com um grande sorriso, estava feliz por ele porque
sabia que aqueles dias passados com corvo jamais seriam esquecidos.
9ª
CAPITULO
Bullying
Final de tarde a família Monforte chega a casa.
Joana vinha muito triste e a chorar,
fora vítima de Bullying na escola.
-Conta-me agora o que se passou
na escola filha. Diz a mãe muito preocupada.
-São problemas meus, sou eu que
tenho que os resolver. Responde a Joana ainda com uma lágrima na cara.
-Os problemas aqui em casa são
de todos somos uma família, não somos?
-Mas eu não sou mesmo vossa
filha.
-Claro que és!! Que conversa é
essa Joana?.
- Fui adoptada, não tenho pais
eles morreram.
-Nós somos os teus pais, meu
amor. Quem te meteu isso na cabeça? Diz a mãe muito preocupada com a situação.
- Meninos lá na escola disseram que
vocês não são os meus pais.
-Claro que somos! Diz a mãe
abraçando a pobre criança que chorava compulsivamente.
-Apesar de não sermos os teus
pais biológicos amamos-te tanto como se fosses. Sabes disso, não sabes? Diz Mário
abraçando as duas.
-Sim sei… Mas eles estão sempre
a gozar comigo. Respondeu Joana.
-Vamos falar sobre isso. Quando
começou? Perguntou July.
-Já algum tempo, sempre que não
faço o que eles querem gozam comigo, respondeu Joana agora um pouco mais calma.
-Não tens de dar importância ao
que os outros dizem, o que interessa é o que nós sentimos e sabes que te amamos,
não sabes? Disse o pai num tom calmo e reconfortante enquanto July abraçava a
filha.
-Sim, eu sei, também os amo
muito. Disse a Joana abraçando de novo os dois.
-Porque não nos contaste mais
cedo filha., e quem diz isso? Disse a mãe que se continha para não chorar.
-Nunca disse porque sempre achei
que eram problema meus. São dois ou três colegas que quando eu não faço o que eles
querem, dizem-me que nem pais tenho.
-Mas o que querem eles que tu
faças? Perguntou o Mário.
-Coisas, ir buscar a bola quando
a chutam para longe, andar com as mochilas deles enquanto jogam há bola ou
estão a brincar...
-Não vez que eles fazem isso só
para que faças o que eles querem?. Disse Mário. Sempre num tom muito calmo.
-Sim, no início não ligava, mas
eles começaram a espalhar pela escola que eu era adotada.
- Não tens de ter vergonha de
ser adotada. Não tem mal nenhum ser adoptado, tens uma família que te ama, não
viste no fim-de-semana a maneira como os avós te trataram? Achas que fazem
distinção entre ti e os outros netos? Disse a July.
-Não mãe, até estão sempre a
ligar para saber como estou e como vai a escola. Respondeu a menina agora
esboçando um pequeno sorriso.
-Sabes são crianças e as
crianças por vezes podem ser cruéis com as outras, só tens de te afastar deles,
não ligar ao que dizem se eles virem que não ligas vão parar de espalhar essas
histórias. Disse o Mário.
-De certeza que não são todos
que fazem isso. Disse July.
-Não, a maioria ralha com eles
quando fazem isso. Respondeu a menina.
-Claro que ralham isso não tem
sentido, uns são adoptados outros filhos de pais divorciados, cada vida tem a
sua particularidade. Disse Mário.
-O que é particularidade?
Perguntou Joana.
-Particularidade é uma
característica de cada um, somos todos diferentes, é isso que nos distingue dos
outros. Respondeu Mário.
-Estás melhor? Prometes que não
vais ligar mais as esses disparates?
-Sim, ainda bem que falei
convosco sobre isto que me andava a entristecer. Respondeu a menina que se
sentia muito melhor por desabafar com os pais.
-O que acham de hoje comer-mos
pizza?. Perguntou July.
-Adoro pizza! Há tanto tempo que
não comemos. Disse Joana.
-Podes ligar para pedir amor?
Pediu July a Mário.
-Tens de ir tomar banho, queres
ajuda ou tomas sozinha Joana?
-Vou sozinha mãe, já sou uma
menina crescida, não sou?
-Pois és. És a minha menina mais
linda.
Enquanto Joana foi tomar banho
Mário e July ficaram a conversar sobre as medidas que deviam tomar em relação
ao problema. Decidiram ir à escola para saber se tinham conhecimento do
problema e para que de futuro ficassem mais atentos.
Pouco depois tocaram a campainha, era o senhor das pizzas, passaram grande
parte da noite a conversar e a contar histórias de quando Joana era mais nova.
Atenção aos sinais de Bullying
nas crianças.
A criança que passa por uma situação de Bullying
pode tornar-se triste e introspectiva, se há suspeita que a criança está a ser
vítima de algum tipo de agressão física ou mental deve falar com a criança de
uma forma calma e deixa-la à vontade para falar sobre o assunto.
Se a situação for na escola deve confrontar os
responsáveis muitas vezes a escola rejeita a situação e diz que os meninos em
questão não eram capazes de fazer isso com uma colega, ou então são coisas de
crianças, não deixe que as crianças vítimas de Bullying passem como mentirosos
ou queixinhas, se a situação persistir deve anotar os factos com datas para
depois confrontar os responsáveis.
Por vezes conversar de forma calma com a
criança é o suficiente, mas noutros casos pode ser necessário consultar um
psicólogo.
Bullying não é brincadeira.








